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Fotógrafa: Vanessa Maritza
Gestante: Danielly Martins
Doula: resgatando o cuidado entre mulheres
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Escrito por Nitiananda Fuganti
A palavra Doula tem origem grega e quer dizer mulher que serve. É um termo novo para designar uma função muito antiga. Há milênios, sabe-se que mulheres pariam na presença de outras mulheres. Havia apoio, orientação e suporte à mulher em seu processo de dar à luz.
Essas mulheres, que se dedicavam ao cuidado durante o parto, eram parteiras, comadres, familiares e mulheres da vizinhança que tinham muita experiência na arte de parir, simplesmente porque parir fazia parte do cotidiano delas. Todo ciclo feminino, aliás, era de domínio das mulheres: menarca, menstruação, gestação, parto, amamentação e menopausa.
Não se duvidava da própria capacidade de gerar uma vida, nem de pari-la ou cuidá-la. Os desafios existiam, sim, mas havia um grande ninho formado pelas mulheres da comunidade que apoiavam umas às outras em todas as necessidades.
Quando o parto passou a acontecer majoritariamente no ambiente hospitalar, e quando o médico (homem) passou a ser o detentor dos saberes sobre o corpo feminino, a potência das mulheres e o domínio de seus próprios corpos passaram a ser questionados, menosprezados e diminuídos, resultando na cultura que temos hoje, que entende a mulher como um defeito da criação.
E se há um defeito, logo, o corpo da mulher torna-se passível de manipulação e, infelizmente, violação. Com sua psique já vulnerável pela própria condição de gestar e transformar-se enquanto sujeito, a mulher, agora à mercê de um sistema que não lhe ampara e não confia em sua capacidade, torna-se alvo das misérias da tecnocracia e desumanização das relações.
A Doula como conhecemos hoje nasceu neste cenário. Do abafamento das tradições femininas à ascensão da medicina tecnicista, hospitalocêntrica e centrada na figura do médico. A mulher, antes ativa e dona de seu corpo e sua psique, passou a ser vista como paciente e um objeto mecânico do qual sairá um produto, o bebê. Focou-se tanto na possibilidade de intercorrências e na especialização em emergências e intervenções, que a fisiologia foi esquecida, a importância subjetiva, emocional e até mesmo espiritual, foi quase completamente descartada.
No Brasil, quando a Doula se tornou conhecida, em torno de 15 anos atrás, o movimento pela humanização do parto e nascimento estava ganhando força e visibilidade. É importante dizer que esse ativismo, social e político, nasceu da insatisfação das próprias mulheres, ganhando muitos adeptos, de profissionais à simpatizantes, o que fez com que houvesse urgência na revisão sobre as boas práticas de atenção à gestante, parturiente e puérpera, bem como ao bebê.
Hoje, felizmente, as políticas públicas amparam melhor as mulheres e famílias durante o ciclo da gravidez, nascimento e pós-parto. A assistência privada admite que há muita pressão, tanto das mulheres que voltaram a buscar o domínio de seus corpos e escolhas, quanto de órgãos de saúde reguladores, como a OMS (Organização Mundial da Saúde). Ou seja, continuar fazendo o que foi feito nos últimos 50 anos não nos serve mais! Não apenas há insatisfação das mulheres, mas os indicadores são preocupantes, como o alto índice de desfechos negativos e mortes evitáveis no parto ou o índice de mortalidade neonatal.
Importante salientar que não há um vilão, mas sim um cultura que, por diversas e complexas razões, valoriza o saber médico e técnico e desdenha dos saberes tradicionais, ancestrais e empíricos, mesmo que estes sejam a base de todo conhecimento sobre o ser humano.
Dito tudo isso, com intenção de contextualizar, quero contar à vocês quem é a Doula hoje, o que ela faz e com quais recursos e parcerias ela trabalha.
Doula é uma profissional capacitada a apoiar a mulher no período do ciclo gravídico-puerperal, compreendido como o período de gestação, parto, nascimento e o período pós-parto, integrando a equipe de assistência multidisciplinar à mulher e ao bebê. Portanto, a Doula não substitui nenhum profissional, mas soma-se à equipe com seu olhar sensível e empático, reconhecendo a mulher em todas as suas dimensões, sem interferir nas orientações e condutas técnicas da equipe.
No período de gestação e pré-parto, a Doula atua procurando identificar os desejos, receios e necessidades da gestante para exercer a maternidade, além de informá-la sobre o que esperar do parto, os tipos de parto e suas etapas, procedimentos comuns com a mulher e com o bebê, possíveis intervenções, intercorrências e seus desdobramentos, cuidados necessários com o corpo e a mente, desafios do pós-parto, a amamentação, e cuidados com o bebê.
Quando o parto passou a acontecer majoritariamente no ambiente hospitalar, e quando o médico (homem) passou a ser o detentor dos saberes sobre o corpo feminino, a potência das mulheres e o domínio de seus próprios corpos passaram a ser questionados, menosprezados e diminuídos, resultando na cultura que temos hoje, que entende a mulher como um defeito da criação.
Para apoiar e orientar adequadamente, a Doula busca recursos tanto teóricos quanto vivenciais, e isso tende a ser determinante para a qualidade no atendimento e desenvoltura frente às diversas situações que podem acontecer.
No parto, a Doula oferece suporte contínuo à gestante, e isso significa que sua presença é o item mais precioso dentre as ferramentas que pode utilizar. Ela também busca inserir e integrar o(a) acompanhante para que se mantenha ativo e seguro durante todo o processo, pois a importância deste papel também foi negligenciada no modelo tecnocrático. A Doula pode sugerir posições mais confortáveis e eficientes para fluidez do trabalho de parto, incentiva a livre movimentação, indica formas eficientes de respiração, oferece massagens para aliviar a dor, relaxar e acolher, utiliza recursos naturais de conforto e bem-estar, como banho quente, aromas, palavras de carinho e encorajamento que tranquilizam a mulher para um bem-parir. Ela também auxilia a mediação entre a equipe obstétrica e a família, explicando o que está acontecendo, traduzindo alguns termos e conceitos e levando à equipe técnica os desejos, necessidades e dificuldades que a mulher possa estar enfrentando. E embora a figura da Doula seja muito mais ligada ao parto natural, sua atuação não se restringe à ele. O suporte que a Doula oferece toca também à mudança de planos, os percalços no caminho, a escolha pela analgesia ou a indicação de cesárea. A Doula está para a mulher e não para o procedimento!
No parto, a Doula oferece suporte contínuo à gestante, e isso significa que sua presença é o item mais precioso dentre as ferramentas que pode utilizar. Ela também busca inserir e integrar o(a) acompanhante para que se mantenha ativo e seguro durante todo o processo, pois a importância deste papel também foi negligenciada no modelo tecnocrático. A Doula pode sugerir posições mais confortáveis e eficientes para fluidez do trabalho de parto, incentiva a livre movimentação, indica formas eficientes de respiração, oferece massagens para aliviar a dor, relaxar e acolher, utiliza recursos naturais de conforto e bem-estar, como banho quente, aromas, palavras de carinho e encorajamento que tranquilizam a mulher para um bem-parir. Ela também auxilia a mediação entre a equipe obstétrica e a família, explicando o que está acontecendo, traduzindo alguns termos e conceitos e levando à equipe técnica os desejos, necessidades e dificuldades que a mulher possa estar enfrentando. E embora a figura da Doula seja muito mais ligada ao parto natural, sua atuação não se restringe à ele. O suporte que a Doula oferece toca também à mudança de planos, os percalços no caminho, a escolha pela analgesia ou a indicação de cesárea. A Doula está para a mulher e não para o procedimento!
No parto, a Doula oferece suporte contínuo à gestante, e isso significa que sua presença é o item mais precioso dentre as ferramentas que pode utilizar. Ela também busca inserir e integrar o(a) acompanhante para que se mantenha ativo e seguro durante todo o processo, pois a importância deste papel também foi negligenciada no modelo tecnocrático. A Doula pode sugerir posições mais confortáveis e eficientes para fluidez do trabalho de parto, incentiva a livre movimentação, indica formas eficientes de respiração, oferece massagens para aliviar a dor, relaxar e acolher, utiliza recursos naturais de conforto e bem-estar, como banho quente, aromas, palavras de carinho e encorajamento que tranquilizam a mulher para um bem-parir. Ela também auxilia a mediação entre a equipe obstétrica e a família, explicando o que está acontecendo, traduzindo alguns termos e conceitos e levando à equipe técnica os desejos, necessidades e dificuldades que a mulher possa estar enfrentando. E embora a figura da Doula seja muito mais ligada ao parto natural, sua atuação não se restringe à ele. O suporte que a Doula oferece toca também à mudança de planos, os percalços no caminho, a escolha pela analgesia ou a indicação de cesárea. A Doula está para a mulher e não para o procedimento!
No pós-parto, oferece atenção e apoio prático à mulher puérpera. A escuta empática e o conforto emocional são formas poderosas de acolhimento e fazem parte do arsenal de recursos que a Doula tem. Ao sentir-se ouvida e cuidada em suas demandas por vezes confusas, a mulher-puérpera tem condições de encontrar os próprios recursos para começar a elaborar a experiência que viveu no parto, abrindo-se para falar sobre seus medos, angústias e frustrações. Esse é um ponto chave para evitar complicações psíquicas no pós-parto, pois a Doula pode identificar a necessidade de uma escuta especializada. A Doula também auxilia a integração da nova família, nova rotina, novas demandas, apontando caminhos e soluções que nutram de leveza e afeto todos que compõem a teia familiar. Abre-se assim, mais espaço para que a vinculação com o bebê se dê de forma mais saudável. Além disso, as orientações básicas com a amamentação, cuidados com o recém-nascido e a recuperação pós-parto também fazem parte do trabalho da Doula.
Algumas Doulas especializam-se em amamentação e pós-parto, outras dedicam-se mais à educação pré-natal, outras, talvez a maioria, debruçam-se sobre as necessidades e dinâmicas múltiplas de todo o período.
Mulheres e famílias que tiveram o privilégio de ser acompanhadas poruma Doula reforçam a importância dessa assistência única e confirmam que há uma grande confusão sobre o verdadeiro papel desta profissional. Afinal, Doula não faz parto; a Doula faz parte!
Para fechar, não posso deixar de citar outro momento delicado e intenso que nós, Doulas, atravessamos: a experiência do luto. Seja diante de um abortamento, seja num óbito intra-útero, ou ainda durante o nascimento e após. Não há como se preparar para viver a morte. Não há curso, não há teoria, nem aula prática que nos coloque diante da dor, evoque em nós o turbilhão de emoções e competências e simplesmente acabe, no próximo intervalo da vida. Ou se está lá entregue e inteira para ser esteio, seja como for, ou a presença não será relevante. E lidar com isso, suspeito ser a parte mais difícil de atuar como Doula. Ver a vida brotar a plenos pulmões é emocionante. Mas ver a vida não prosperar, sentir a alma ser arrebentada e ainda assim entregar para a família todo acolhimento que puder, enquanto acalma o próprio coração, não cabe nas palavras aqui, nem em qualquer manual. É só vivendo, e só sendo totalmente humana, despida de si mesma para ser colo para o outro cuja dor é ainda mais dilacerante. A transformação pela dor é profunda, lenta e intransferível.
Bom, espero ter sido capaz de explicar o louvável trabalho da Doula. Não acho esta tarefa fácil. Afinal, não envolve somente competências técnicas e sim muitas habilidades emocionais e empáticas. Sinto-me honrada e espero ter representado as Doulas ao longo do meu texto com o respeito e valor que merecem!
Por Nitiananda Fuganti
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Para mudar o mundo é primeiro preciso mudar a forma de nascer.
dito por Michel Odent
Todos os textos postados neste blog são de inteira responsabilidade dos seus autores.
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