À Margem
poesia de Nic Cardeal
Eu não sou janela
– sequer porta –
guardo em mim
prisões antigas
em que receios fazem conluios
com devaneios de outros tempos.
Não me faças arruinar esperanças
– não sou feita em argamassas –
minhas fronteiras
tão estreitas
foram tecidas sem que camelos
consigam ultrapassar fendas de agulhas.
Não sou simétrica,
sou confusa
quase obtusa
meus ângulos sobrepostos
desqualificam hipotenusas.
Não tenho pisos,
meus pés são descalços de compassos,
minhas arestas são precipícios profundos.
Não queiras ocupar minha pele,
não te atrevas a conjugar
o silêncio que me comove,
nem te movas a alçar voo
em meus horizontes,
pois que minha prisão é perpétua
entre mim e a minha métrica.
Eu não sou aquela.
Nem a outra.
Se guardares a ânsia,
poderás vislumbrar um lampejo
da minha alma pendurada no vão da entrada.
Não me faças prometer descobertas!
Fui condenada à pena máxima:
não posso ser outra.
Não me desconheças:
eu sou aquela
na qual receios fazem conluios com esperanças!
Quem sabe assim pagarei o débito a mim imposto
por viver à margem da tua sentença!
(Nic Cardeal)
“
Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada.
dito por Clarisse Lispector
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